O transporte público de Teresina, como em muitas outras grandes cidades brasileiras, enfrenta sérios desafios operacionais e administrativos que impactam diretamente a qualidade de vida da população. O sistema de transporte coletivo, essencial para o deslocamento de milhares de cidadãos diariamente, tem sido marcado por conflitos entre a gestão pública, as empresas operadoras e os trabalhadores do setor. A recente greve dos motoristas e cobradores de ônibus, que paralisou a cidade por vários dias, trouxe à tona questões que precisam ser resolvidas com urgência. Neste cenário, a proposta de rompimento de contratos com as empresas de transporte, defendida pelo vereador Dudu (PT), ganhou destaque como uma possível solução para a crise do sistema.
O vereador Dudu, presidente da Comissão de Transporte da Câmara Municipal de Teresina, sugere que o rompimento dos contratos com o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros de Teresina (SETUT) poderia ser uma maneira eficaz de resolver a greve dos motoristas e os problemas estruturais enfrentados pelo setor. De acordo com Dudu, o contrato atual, que gerencia o serviço de transporte na cidade, foi marcado por uma série de falhas e descumprimentos contratuais por parte das empresas operadoras. A proposta de abrir uma nova licitação emergencial visaria garantir maior eficiência no transporte público de Teresina, além de resolver as pendências que têm afetado a prestação do serviço.
No entanto, a posição do SETUT é contrária a essa proposta. O sindicato das empresas de transporte emitiu uma nota onde refuta as declarações do vereador Dudu, alegando que o rompimento do contrato traria grandes custos financeiros para o município e agravaria ainda mais os problemas do sistema. O SETUT destaca que a crise do transporte público não é exclusivamente culpa das empresas, mas é também um reflexo da falta de repasses financeiros adequados por parte da prefeitura e da alta quantidade de gratuidades que pesam sobre o sistema. Para o sindicato, a solução não seria o rompimento do contrato, mas sim a renegociação dos termos e a busca por alternativas que permitam a continuidade do serviço sem a instabilidade de uma nova licitação.
Além das questões contratuais, a greve dos motoristas e cobradores de ônibus é um reflexo das condições de trabalho da categoria. Os trabalhadores do setor têm denunciado atrasos nos pagamentos, a sobrecarga de trabalho e a falta de condições adequadas nos veículos e terminais. A situação tem gerado um grande desconforto para a população, que depende do transporte público para se deslocar pela cidade. A paralisação que já dura vários dias evidencia a necessidade urgente de um diálogo mais eficaz entre as partes envolvidas, de forma a chegar a uma solução que beneficie tanto os trabalhadores quanto os usuários do sistema.
Para além das greves e dos desentendimentos entre as partes, a gestão do transporte público em Teresina também enfrenta desafios operacionais mais amplos. A frota de ônibus da cidade está envelhecida e não atende adequadamente a demanda crescente de passageiros. A solução para esse problema seria a renovação da frota, mas, para isso, seria necessário um grande investimento. A prefeitura anunciou recentemente a aquisição de 80 ônibus seminovos, num investimento de R$ 50 milhões, com o objetivo de melhorar a qualidade do serviço. Embora a decisão tenha sido recebida com certa apreensão por parte dos empresários, a renovação da frota é uma medida importante para garantir a eficiência do transporte público e a segurança dos passageiros.
O setor também está discutindo a possibilidade de incorporar ônibus elétricos ao sistema de transporte público de Teresina. A proposta de transição para veículos mais sustentáveis visa reduzir os custos operacionais e minimizar os impactos ambientais, já que os ônibus elétricos não emitem gases poluentes. Contudo, especialistas alertam que a implementação de ônibus elétricos requer investimentos significativos e planejamento de longo prazo. A transição para um sistema mais sustentável seria uma boa solução a longo prazo, mas é um desafio considerável para uma cidade como Teresina, que precisa de soluções mais imediatas para resolver a crise do transporte.
Outro aspecto fundamental a ser considerado é a questão dos repasses financeiros e da tarifa do transporte público. O sistema de transporte coletivo em Teresina é subsidiado pelo município, mas os repasses são insuficientes para cobrir as despesas operacionais das empresas de transporte. Além disso, a tarifa cobrada dos passageiros não cobre os custos do serviço, o que gera um déficit financeiro que acaba sendo repassado para a população por meio de um transporte de baixa qualidade. A revisão da tarifa e a busca por fontes alternativas de financiamento para o transporte público são questões que precisam ser discutidas com mais seriedade, para garantir a viabilidade econômica do sistema.
Uma proposta que surge em meio a esse cenário é a criação de um modelo híbrido de gestão do transporte público. Nesse modelo, o poder público poderia assumir uma maior participação na operação do sistema, seja por meio de concessões ou até mesmo de parcerias público-privadas (PPPs). A ideia é combinar a eficiência da gestão pública com a expertise das empresas privadas para garantir a oferta de um serviço de qualidade e a satisfação dos usuários. No entanto, essa proposta também exige um estudo detalhado dos custos e benefícios, para que não haja prejuízos financeiros para o município.
Por fim, é essencial que a sociedade de Teresina, o poder público e as empresas operadoras de transporte se unam em busca de soluções para o transporte público da cidade. O momento exige uma abordagem colaborativa e sensata, onde os interesses de todos sejam considerados. A greve dos motoristas e cobradores de ônibus é um reflexo de um sistema em crise, mas também é uma oportunidade para a cidade reavaliar suas políticas de transporte e buscar alternativas que garantam um serviço público mais eficiente e acessível para todos. A população espera que, por meio do diálogo e da ação conjunta, seja possível superar os desafios do transporte coletivo e transformar a realidade do sistema de transporte público de Teresina.
A renovação do transporte público não é apenas uma questão de infraestrutura, mas também de compromisso com a qualidade de vida dos cidadãos e com a sustentabilidade da cidade. Para que isso se torne realidade, é necessário que haja uma união de esforços entre o poder público, as empresas de transporte e os trabalhadores, sempre com a visão de melhorar o serviço para os usuários. O futuro do transporte público em Teresina depende das decisões que forem tomadas hoje, e essas decisões precisam ser baseadas em uma análise profunda das necessidades da população e das condições do setor.
Autor: Vladimir Shestakov